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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Relato de parto normal

Talvez vocês já tenham lido aqui que minha primeira filha nasceu de cesária. Também talvez já tenha lido que me arrependo disso, pois praticamente foi eu quem escolhi. Mas agora vou relatar uma experiência incrível. Sim, tive parto normal. Natural ou humanizado, chame como quiser chamar, mas foi algo completamente único. Era exatamente o que eu esperava, apesar de saber que é um momento totalmente imprevisível.

No dia seguinte da minha postagem sobre saber esperar, minha segunda menina nasceu. Às 3 horas e 20 minutos da madrugada minha bolsa estourou. Eu estava dormindo e até sonhando, quando um "POC" bem no meio da barriga me despertou. Achei que era coisa da minha cabeça, mas levantei e percebi um pouco de líquido bem transparente e sem cheiro saindo na calcinha. Coloquei um absorvente e me deitei novamente. Não deu um minuto e saiu mais líquido, fui tomar banho enquanto saía mais.

Li que quando o líquido é incolor e inodoro, não precisamos sair correndo para o hospital, dá tempo de tomar banho e se alimentar. Fiz isso, em silêncio, antes de acordar meu marido. Depois de quase uma hora, avisei ele e 5h e 20m estávamos saindo para o hospital, já com leves contrações e cólicas. Cheguei na Emergência do Hospital Universitário de Santa Catarina, Florianópolis, às 6h. Entre 6h e meia a 7 horas fui examinada e monitorada, já estava com 4 cm de dilatação e dores que me faziam parar de falar e respirar fundo, me contorcendo.

Fui para a sala pré-parto e logo me ofereceram um banho morno na bola inflável para relaxar e amenizar a dor das contrações. Fui para o banho bem devagar e respirando fundo, as contrações vinham uma em cima da outra, com três minutos de alívio. Não gostei da sensação da água nas costas, não consegui relaxar, estava sozinha e a posição e instabilidade da bola também não me trouxeram condições de relaxamento.

Depois que saí do banho as dores pareciam mais fortes. Deitei de lado na cama para ficar mais confortável, mas mal conseguia me mexer. Cada contração me deixava mais tensa e, até passar a tensão, vinha outra logo em cima. A dor me fazia me segurar firme nas alças da cama e gemer um grito interno. Mesmo respirando não conseguia amenizar a dor que ficava mais forte, como uma dor de barriga multiplicada.

De repente me vi fazendo força, mas não sabia se já estava na hora. Estava só eu e meu marido na sala e chamei alguém pra perguntar. Não tenho certeza se quem me orientou era enfermeira, obstetra ou obstetriz... talvez fosse até uma doula, me orientou a fazer o que o corpo estivesse mandando. A dor me fazia fazer força, muita força. A cada força sentia perder líquido ou talvez até urina, não sabia diferenciar. Uma delas me fez uma massagem na parte de baixo das costas, mas também não me agradou. O Gui, meu marido, ficou comigo todo o tempo, mas mal podia me encostar ou me dirigir a palavra... 😆

Pedi um exame de toque para ver como estava a dilatação. Já devia ser quase 10 horas da manhã, não conseguia nem olhar pro relógio. Me disseram que era cedo para repetir o exame de toque, parece que é uma nova regra de conduta ou lei de parto humanizado... não fazer o toque no colo do útero toda hora, para não estressar a mulher. Mas como eu havia pedido, resolveram fazer. Eu estava com 10 cm de dilatação e o colo terminando de afinar! Me ofereceram ir com calma para a sala de parto. Foi muito difícil caminhar com uma dor atrás da outra.

Na sala de parto, com luz baixa e com umas cinco profissionais me acompanhando, (não sei qual a função de cada uma 😁) me senti muito a vontade. Me ofereceram testar outras posições, fiquei praticamente "de quatro" com os braços apoiados no encosto da cadeira de parto.



Sabe aqueles vídeos de parto humanizado em que as mulheres estão na banheira, ou não, mas mal gritam? Essa não era eu! Não conseguia respirar, relaxar, as contrações vinham uma em cima da outra e até eu livrar a tensão da dor e respirar, já vinha outra. Uma ou outra não doíam tanto, mas eu não tinha controle. Cada contração eu fazia força e me segurava firme nas barras da cama. Fiquei com muita dor nos ombros e pescoço e pedi pro Gui me massagear essa área nos intervalos.



Na sala, um silêncio por parte das profissionais, não me deram pressão, mas me motivavam e elogiavam esporadicamente. Quando eu tinha dúvidas, me respondiam e davam dicas. Comecei a sentir que a bebê cada vez avançava mais no caminho do colo, mas minha agonia era sentir que ela regressava ao final da contração. A cada força ela avançava um pouco mais e voltava tudo de novo. Eu me esforçava para que cada vez fosse a última... mas a saída dela estava apenas começando.

Agora não sentia só a dor da contração, mas dela passando pelo canal vaginal (35 cm de diâmetro 😁). Não dá pra dizer que não dói, mas não é impossível. Finalmente a frase que toda mãe quer ouvir "estou vendo o cabelinho"! Minha meta agora era fazer sair a cabeça. Depois disso eu sabia que só restaria mais uma força e acabaria. Não foi logo em seguida, mais algumas contrações e a cabeça saiu! Meu alívio durou pouco, a médica resolveu ver se o cordão umbilical estava no pescoço da bebê e introduziu os dedos... você sabe onde... este foi o pior momento, doeu na pele, tive uma laceração no períneo de 1 cm e desconfio que tenha sido nessa hora.

A última força e minha filha saiu! Às 11h07m. As dores pararam imediatamente! Ela ali quentinha e com um cheirinho delicioso! Peguei ela ainda de joelhos e me virei sozinha para deitar com ela no meu peito. Elas a cobriram e ali ela ficou: No meu colo. Deu para curtir bastante o momento, muito diferente da cesária. Esperaram o cordão umbilical parar de pulsar e o Gui cortou o cordão. Recebi muitos elogios, me senti muito tranquila e segura.


A novela da placenta 


Não era para ser demorado, mas demorou. Quase uma hora! Li que as contrações continuam mais fracas para a placenta descolar e sair. Em média até 15 minutos depois do parto. Mas no meu caso esperamos, esperamos, esperamos. A médica muito paciente, puxava o cordão umbilical devagar, mas via que ela ainda estava colada no útero. A bebê já tinha saído da sala. Recebi uma injeção de oxitocina no quadril. Não gostei muito, porque não queria nenhuma intervenção artificial, mas a enfermeira disse que era para estancar o sangramento.

Depois de esperar quase uma hora, a obstetriz teve que massagear minha barriga para descolar a placenta. Doeu muito no meu caso... involuntariamente eu segurava a mão dela impedindo-a, mas ela me disse que se demorasse teria que fazer uma intervenção cirúrgica só pra tirar a placenta. Aguentei a dor, gritando como se fosse no parto, mas finalmente ela saiu.

Laceração do períneo


Depois disso a médica me descreveu a laceração, 1 cm, e disse que precisaria de dois pontos. Mas que eu podia optar por não fazer, pois igual o períneo iria se restituir se eu cuidasse. Não sou muito fã de pontos, e ponderei que, mesmo com ou sem pontos, iria ter que cuidar, iria doer... mas se fizesse pontos iria ter que retornar pra tirar. Como meus pontos da cesária demoraram 14 dias pra cicatrizar e doeu pra caramba pra tirar... optei por não fazer os pontos.

Passei para a maca sozinha, logo depois e fui para o quarto com a bebê, que já tinha retornado pra mim depois de pesar. Papai estava juntinho dela. 3.005 Kg, 46 cm e 8 e 9 de Apgar. 39 semanas de gestação + 2 dias. Ana Elisa Medronha da Silva. Na sala de parto e no quarto ela já pegou o peito.



2 comentários:

  1. Que lindo relato! Emocionante! Bem detalhado, eu tinha curiosidade em saber exatamente desses detalhes... Parabéns mãezona!Te admiro demais! Beijos

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  2. Amei o relato, bem esclarecedor...parabéns pela coragem e confiança nas leis da natureza.
    Certamente a Ana nasceu na hora certa, para as duas. Beijo

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