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sexta-feira, 8 de maio de 2015

Chupeta: sim ou não?

Quando está com sono, geralmente fica irritada e o bico acalma

Evitei dar chupeta para a minha filha até o segundo mês de vida, mas reparei que ela tinha uma grande necessidade em sugar. Se eu oferecia a mama sempre que ela pedia, acabava vomitando de tanto mamar, as vezes em menos de uma hora depois da mamada ela já pedia novamente. Como ela estava ganhando peso corretamente, eu tinha medo de que os vômitos atrapalhassem seu ganho de peso, além de ser extremamente desconfortável para ela e para mim.

Então esperava fechar o intervalo de duas horas entre as mamadas e tentava distraí-la mudando a posição no colo enquanto ela tentava chupar meus braços, peito e pescoço. Essa situação também era desgastante para os pais e estressante para a bebê, então quando completou dois meses e já tinha aprendido bem a pega da mama, decidi dar o bico somente a noite para dormir. Hoje com quase três meses ela ainda chupa um pouquinho enquanto está acordada, mas como já está tentando conversar, passa a maior parte do tempo sem ele mesmo. 

A Organização Mundial da Saúde não aconselha uso de chupetas ou mamadeiras para o bebê que mama exclusivamente no peito, justamente para não atrapalhar os benefícios da amamentação. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatriasucção é um reflexo vital para o crescimento e desenvolvimento psíquico do bebê. É considerada uma necessidade fisiológica que promove a liberação de endorfina, um hormônio que produz um efeito de modulação da dor, do humor e da ansiedade, provocando uma sensação de prazer e bem-estar ao bebê.

A amamentação é suficiente para satisfazer o desejo básico de sucção do bebê, desde que ele esteja mamando exclusivamente no peito e a mãe o ofereça sempre que o bebê quiser. É importante enfatizar que a sucção do bebê ao mamar no seio materno é completamente diferente do sugar o bico de uma mamadeira ou chupeta. Mamar no peito é muito importante para o desenvolvimento da mandíbula e demais ossos da face, dos músculos da mastigação, da oclusão dentária e da respiração de forma adequada.

Prós e Contras
PRÓS 
- trata-se de um calmante imediato do choro;
- alguns estudos evidenciaram possível efeito protetor contra morte súbita, desde que seja introduzida após a terceira semana de vida ou com a amamentação já estabelecida e utilizada apenas durante o sono (recomendação oficial da Academia Americana de Pediatria - AAP).
CONTRAS
- Inúmeros estudos mostram que a chupeta está sempre associada com um tempo menor de duração do Aleitamento Materno e que a mesma acaba por ser um indicador de dificuldades da amamentação. Este fato acabou sendo decisivo para que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) optassem como recomendação oficial de não utilizar bicos e chupetas desde o nascimento, pois o tempo de duração do aleitamento materno influi diretamente na saúde do bebê e da mãe, quanto mais tempo amamentar, mais saúde para ambos. Esta orientação é compartilhada pelo Ministério da Saúde do Brasil que desde 1990 optou pela implantação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, que tem como regra (nono passo - o sucesso da amamentação) a não utilização de bicos, mamadeiras e chupetas em alojamento conjunto.
- Com relação a acalmar, temos uma linha de psicólogos que discordam desta forma de acalmar, pois temos inúmeras maneiras de acalmar um bebê (carinho, colo, cantar, amamentar, etc.) sem a necessidade de utilização de um artifício que traz malefícios para a saúde do bebê. Orientam ainda que quando uma criança começa a introduzir o dedo na boca, temos que dar uma função para as mãos, desta forma, entrega-se brinquedos adequados para a idade para que a distração seja direcionada em outro sentido. Claro que a criança poderá levar este brinquedo à boca (mordedores, por exemplo), mas isto não leva a vícios. Portanto não “vicia” em chupeta e nem no dedo.
- Outros estudos apresentam efeitos prejudiciais do uso da chupeta com relação à oclusão dentária, levando à deformação na arcada dentária e problemas na mastigação, além de atrasos na linguagem oral, problemas na fala e emocionais. O risco de má oclusão dentária em crianças que utilizam chupetas pode chegar a duas vezes em relação aos que não usam.
- Temos ainda prejuízos respiratórios importantes, levando a uma expiração prolongada, reduzindo a saturação de oxigênio e a frequência respiratória. A respiração acaba ficando mais frequente pela boca (respiração oral), o que piora a elevação do palato (céu da boca), diminuindo o espaço aéreo dos seios da face e provocando desvio do septo nasal. A respiração oral leva à diminuição da produção da saliva, que pode aumentar o risco de cáries. Como a respiração nasal tem a função de aquecer, umidificar e purificar o ar inalado e isto não ocorre de forma adequada na respiração oral, temos maiores chances de irritações da orofaringe, laringe e pulmões, que passam a receber um ar frio, seco e não filtrado adequadamente.
- Outras consequências da respiração oral são: as infecções de ouvido, rinites e amigdalites.
- O uso de chupetas também está associado a maior chance de candidíase oral (sapinho) e verminoses, já que é quase impossível manter uma chupeta com higiene adequada.
- Na confecção de bicos e chupetas temos o uso de materiais possivelmente carcinogênicos (N-nitrosaminas) que ainda carecem de estudos mais aprofundados.
- Com relação à morte súbita, a mesma é definida como uma morte inesperada de crianças menores de 1 ano de idade, com pico entre 2 e 3 meses, que permanece inexplicada após extensa investigação, incluindo história clínica, necropsia completa e revisão do local do óbito. Portanto é uma situação em que até o momento não sabemos qual é a verdadeira causa. Existem muitas críticas sobre as metodologias utilizadas nestes estudos, o que enfraqueceria em muito e tornaria no mínimo precoce a argumentação de que a chupeta seria um possível protetor da morte súbita. Apesar de ser uma indicação oficial da AAP, esta opinião não é compartilhada por importantes órgãos como o MS (Ministério da Saúde do Brasil – área técnica da criança e do aleitamento materno), OMS, UNICEF, WABA (ONG internacional que promove a semana mundial da amamentação) e IBFAN (Rede Mundial que luta pelas leis que normatizam a propaganda de alimentos que podem prejudicar a instalação e manutenção do AM), que entendem ser necessária a realização de mais estudos sobre este assunto controverso.
- Por fim, vale destacar que um estudo de revisão, multidisciplinar, publicado no Jornal de Pediatria em 2009, buscou na literatura prós e contras o uso de chupeta e chegou à conclusão final de que foram encontrados mais efeitos deletérios do que benéficos.
Desta forma, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que os pais tenham claramente esta visão de “prós e contras” do uso da chupeta, para que, junto ao seu pediatra, possam tomar uma decisão informada quanto a oferecê-la, ou não, aos seus bebês.

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